quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sociedade dos Poetas Mortos: é preciso entregar-se com coragem para alcançar o abstrato desta criação

Hoje revi “Sociedade dos Poetas Mortos”, um daqueles clássicos obrigatórios. Não lembro quando o assisti pela primeira vez, como também não me lembrava de detalhes da história. E vendo com o cuidado que ele merece, posso afirmar que o enredo nos fisga exatamente nos detalhes.
Se você lembra do filme, experimente ‘vender’ uma sinopse dele. Não irá longe de ‘uma rigorosa instituição de ensino admite um professor com uma visão ousada que, aos poucos, conquista seus alunos mas desagrada a direção do colégio’. Não é isso?  Mas a gente sabe que o filme é muito mais. Neste caso, a sinopse será sempre muito rígida e pouco transporá de sua quase vaporosa sensibilidade.
Lançado em 1989, com um Robin Williams ainda irretocável, o filme tem em seu pano de fundo a opressão paterna e o rigor social que o ano de 1959 imprimia. E nada mais a falar de concreto. Tudo o mais é abstrato sobre “Sociedade”.
Há uma cena despretensiosa, mas de grande poesia, quando um aluno desce a toda velocidade uma colina de bicicleta, provocando a revoada de milhares de pássaros e, numa exuberante sequência sem cortes, passa por uma minúscula ponte de madeira. E esta cena não está desacompanhada. É pinçada apenas como uma referência marcante da singeleza do filme. Há muitas outras de igual sedução.
Quer refletir? Há uma aula que o professor dá no pátio, pondo seus alunos em marcha, numa suposta sintonia. Uns quatro ou cinco desfilam pé ante pé e bem próximos, numa cadência de palmas marcada pelos demais, que assistiam. Com este movimento, o professor expõe os diferentes estilos de marcha de cada um – o angustiado, preocupado em acertar o passo, o desleixado... Linda forma de aplicar a lição sobre as diferenças humanas e a necessidade de não deixarmos as verdades alheias sobreporem-se sobre a nossa. Enxergue longe de uma pretensa aula de autoajuda. Você faz isso sem esforço enquanto assiste.


O filme inspira a vida, com uma visão ainda atual sobre a necessidade de compreender-nos vivos. A música, sob medida, nos embala enquanto revemos nossa alma em meio a citações de poetas. Impõe-nos uma visão corajosa, acordada para nossa existência.
Literatura e filosofia mais do que se misturam, se unem. A emoção que aflora em cada cena também alia-se a esta receita irresistível. A narrativa, sem pressa, parece combinar com este segundo olhar meu sobre o filme.
Deu vontade? Assista de novo. “Sociedade” não é um filme para se ver, mas para se ter. Para os críticos frenéticos, o clássico pode não passar de um enredo óbvio, com final mais óbvio ainda. Não. Não é isso mesmo. Porque para se deixar levar por “Sociedade dos Poetas Mortos” é preciso sentir-se, reconhecer-se nas entrelinhas. Tem que se entregar, mergulhar em seus olhares, saber ouvir os seus detalhes e enxergar o que talvez poucos enxerguem. É essa, inclusive, a proposta de seus criadores.

2 comentários:

  1. É o meu filme, inclusive o coloquei como único em meu perfil. Simplesmente uma lição de vida.
    Adorei a materia.
    Grande abraço.

    Espaço mais que merecido no:

    http://linkandovoce.blogspot.com/

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