quarta-feira, 11 de julho de 2012

Apóstrofo, este ladrão de caracteres

O Twitter trouxe com ele um erro de grafia muito disseminado (e portanto sério).  O nome dos festejados Trending Topics pediu logo uma abreviação por conta da escassez de caracteres a cada tuitada. O que era Trending Topics passou a ser TTs (note que a expressão em inglês está no plural). O problema é que o que era pra ser TTs virou TT’s.


Não consigo entender o que levou a grande massa da tuitosfera a enfiar este apóstrofo na tal sigla. Num lugar onde tudo é abreviado para economizar espaço, um apóstrofo desnecessário é quase um sacrilégio. Ainda mais estando errado. Mas o desordeiro apóstrofo, o ladrão de caracteres, está lá, dia após dia, descendo na minha timeline.

Tendo a imaginar que o Mc Donald’s tenha sua parcela de culpa. Afinal, é uma marca super pop que termina em e leva um apóstrofo antes. Será que sabem que, igualmente em inglês, apóstrofo não é para uso em plural? Teria sido esse o caminho para a indução ao erro? Mas voltemos ao português.

O que importa entender é que apóstrofo é supressão de letra e não plural. Usa-se em Itaporanga d’Ajuda, caixa d’água, pau d’alho, galinha d’angola. É raro, de uso especialíssimo. Há formas ainda menos usuais, como quando o pronome refere-se a seres divinos (d’Ele, n’Ele). Todas as demais formas, que ainda hoje são encontradas em algumas gramáticas, caíram em desuso.

Então ficamos combinados: o plural de TT é TTs, de CD é CDs, de DVD é DVDs, de PM é PMs, de TV é TVs, de FM é FMs e por aí vai... É só acrescentar o S minúsculo, mesmo sendo uma sigla de palavras estrangeiras. Português é simples. A gente é que complica.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Wagner Moura, seu lindo!



Wagner Moura tem a timidez encantadora de um primeiro namorado. O olhar e o sorriso arrancam de nós sentimentos bons, adolescentes. Sua voz grave, masculina, quase pede um abraço. Seu gestual discreto fica ainda mais irresistível quando sabemos que guarda um homem corajoso, politizado, combativo, engajado, de boa índole, sensível e inteligente. Não bastasse tudo isso, é o ator mais talentoso e um dos mais premiados deste país.

Impetuoso e de atitude, quando Arnaldo Bloch chamou Tropa de Elite de fascista, foi o primeiro a responder, num artigo bem fundamentado, que ganhou a primeira página de O Globo. Fez o país repensar o programa Pânico na TV, quando foi vítima do que ele definiu de “espetacularização da babaquice”. Também condena a revista Veja, à qual ele abertamente chama de conservadora, elitista, escrota, violenta e arrogante.

Wagner tem uma posição igualmente segura quando o assunto é religião. Diz que não acredita na Bíblia e que Deus somos nós, no domínio pleno de nosso potencial cerebral: “acredito no metafísico, nas coisas que a gente não enxerga com nossa visão limitada”. Está sempre nas causas ambientais e de direitos humanos.

Quando a gente pensa que ele já surpreendeu tudo, vem o Tributo à Legião Urbana. Que outra pessoa poderia subir num palco de tanta responsabilidade e mostrar que está ali para se divertir tanto quanto os oito mil presentes em cada uma das duas apresentações, na semana passada? Curtiu, reverenciou e desafinou, como todo o resto da multidão.

De olho no que há ainda a desbravar, move-se em direção a Hollywood. Depois de ter recusado vários papéis, vai ser o protagonista na biografia do cineasta Federico Fellini. Porta da frente e tapete vermelho em Los Angeles! Lá também vai fazer um vilão na ficção Elysium, ao lado de um elenco estelar. O namoradinho do Brasil ganhará o mundo, sem dúvida. Inspirado, genial, carismático, mas também modesto e cuidadoso com a glória, certamente saberá lidar com os novos elementos girando à sua volta. 



sexta-feira, 20 de abril de 2012

Sócrates, o precursor de Jesus


Você sabia que Jesus Cristo era um seguidor da filosofia socrática? Pois sim, há grande abundância de Sócrates no filho de Deus. Apenas 400 anos separam um do outro e considerando o quanto um permanece tão vivo até hoje e outro foi negligenciado pela humanidade, me pergunto por que, pra muita gente, Sócrates pouco passou do filósofo grego autor da sentença “Só sei que nada sei”.
Louva-se Jesus porque questionava as velhas crenças e não aceitava algo pela autoridade, pela obviedade, pelo senso comum. Quatro séculos antes, Sócrates já fazia isso, e muito bem feito. Todas as suas biografias revelam o quanto renegava a verdade genérica, o argumento banal. Não queria as respostas padronizadas, tradicionais. Durante 50 anos, criticou e atacou publicamente as tradições da vida e tinha um grupo de jovens seguidores (entre eles, Platão). Queria formar seres pensantes, sem pedir nada em troca. Sequer gostava de dizer que tinha seguidores.
Outro dado instigante sobre ele é que não deixou escritos, já que o conhecimento, no seu entender, não é uma obra fechada, concluída. Conhecimentos, sensações, compreensões, percepções, uma vez retidos, imediatamente se limitam, perdem valor. A memória, na filosofia socrática, não comporta o saber. Sabia que o saber é não saber.
Andava descalço, com uma túnica encardida, pouco se banhava e tudo isso era incomum para uma pessoa de sua casta intelectual. Jesus foi espírito. Sócrates foi corpo e alma alheios às convenções. Era desengonçado, tinha a cabeça grande, olhos grandes, era um homem feio, o que também, entre os gregos, era incomum. Outro grande talento era o bom humor, uma quase ironia, beirando o sarcasmo,  próprio dos muito inteligentes. No episódio de sua morte, seus seguidores lamentavam que ele morresse  inocente. E ele lhes respondeu: “Por que? Prefeririam que eu morresse culpado?”.
Na época em que viveu (469aC-399aC), o comum filosofal era interrogar sobre o Universo, a Terra, a Lua, o Sol, de que eram feitos ou quem os fez. Era uma época em que afloravam a ciência, o estudo da astronomia, da matemática e da física. Mas ele não se interessava por nada disso. Só queria saber de gente e do pensamento dessa gente.
A enorme riqueza de sua vida abrange matrizes não só da filosofia, mas também da psicanálise, da religião, da política, da cultura, do mundo das leis, da pedagogia, das relações públicas, da composição social. Enfim, Sócrates pode estar onde quisermos colocá-lo.
Sócrates foi o primeiro gênio a pôr o ser humano no centro da existência: -“Quem sou eu?”, “Por que sou o que sou?”, “Por que sei o que sei?”, eram perguntas que lhe fervilhavam a mente. Trocava ideia com poetas, artesãos, políticos, gente do povo, qualquer um. Perguntava-lhes sobre piedade, amor, justiça, ética, moral. Suas conversas começavam em tom de curiosidade e terminavam provocativas, confrontadoras. Foi extremamente hábil em explorar as contradições humanas. Era uma pessoa muito cativante, mas desestruturava os pretensiosos.
Assim como viveu, morreu pela liberdade do pensar, cumprindo sentença da tal justiça humana. Nos deixou o ensinamento de nunca nos conformarmos com o que já existe como única forma do possível. Ao contrário: é preciso filosofar. Depois da morte de Sócrates, Atenas converteu-se numa cidade intelectual, um paraíso do estudo e da discussão, dos alunos de Sócrates e dos alunos de seus alunos...
Platão, Aristóteles e tantos outros passaram a construir lentamente um mundo embasado numa razão especial e pouco a pouco as ideias destes gregos começaram a se alastrar pelo mundo. Foi graças a Sócrates, pois, que o mundo virou o império do questionamento e de uma infindável busca existencial. E um dos inúmeros méritos de Jesus foi, portanto, inspirar-se nesta fonte límpida, rica, extraordinária.

domingo, 18 de março de 2012

Quem tem raça, amor e paixão, não precisa ter razão


O Flamengo é meu time, não uma empresa que administro. Quero vê-lo em campo, fazendo a alegria da maior torcida do mundo. A mim cabe vibrar, gritar, falar mal do técnico, de um jogador ou outro que não goste e aquelas outras coisas que todos conhecem sobre o mundo dos torcedores apaixonados. Fazer conta, avaliar, ponderar, racionalizar não é pra mim. Nem pros outros 35 milhões de flamenguistas.

Quando se ouve o grito de “raça, amor e paixão”, quem precisa de razão? É por isso que sou uma das militantes da campanha por Adriano de volta. Quero sim. Sempre quis. Adriano é a cara do Flamengo e a Gávea é a casa dele. Carioca, cria do time, torcedor assumido, Adriano também quer o Flamengo. A torcida cansou dos insossos Devids. Queremos jogadores apaixonados pelo CRF que carrega no peito.

Por que a torcida idolatra tanto Zico? Porque diferente de outros grandes heróis rubro-negros (Bebeto e Romário, por exemplo), Zico sempre se portou como um flamenguista, antes de qualquer coisa. Nunca usou outra camisa no Brasil e não seria o nosso Zico, se usasse. Assim é Adriano também. A camisa do Corinthians lhe pesava, entristecia. Parecia um animal de circo, enjaulado, longe do habitat.

E agora? Não sei. Torço para que ele se recupere e que faça uma bela temporada nessa sua volta pra casa. O Adriano quer, a torcida quer, os jogadores querem, os dirigentes querem, o empresário dele quer, Joel quer... E que os contra o retorno de Adriano repensem. Afinal, a essa altura do campeonato, com tanta carência de alma em campo, não sei se é Adriano que precisa mais do Flamengo ou o Flamengo dele. Seja como for, o retorno está praticamente certo. Que venha o imperador e que nos faça muito felizes enquanto durar.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Facebook ou Fakebook?



O Facebook é o oásis da autoafirmação. Nele, todo mundo é bonito, rico, feliz, malhado, tem uma vida social intensa, gosto apurado para música e literatura, é popular, divertido e ao mesmo tempo inteligente, culto, bem informado, super considerado. E ainda acredita em Deus, é bom pai ou mãe. Ah! E conhece boas citações.

Poucos disfarçam suas vaidades, necessidades de reconhecimento, de gerenciar o imaginário alheio. A interação é gentil, quase delicada. Se você curte o que eu digo, fico lhe devendo uma. Se fizer um comentário simpático, é dívida eterna. Um se alimenta do outro.

Diferente do Orkut, o Facebook castra a espontaneidade de se sentir entre amigos. Afinal, lá estão nossos chefes, clientes, concorrentes e o resto do mundo. Todos à espreita. Representar no Facebook é quase uma obrigação. Até mesmo os que parecem espontâneos, apenas parecem.

A autorrepresentação nesta rede dá a sensação de comando sobre como quer que o vejam. Photoshopando até a alma, o auto marketing produz, claro, pessoas irreais. Mas isso não machuca, porque a imagem pública passou a conferir, paradoxalmente, valor à própria existência. Aí, só Freud.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

“Os Pilares da Terra” na Band



Nesta terça-feira à noite (22h25, horário de Brasília) estreia na Band a minissérie “Os Pilares da Terra”. Se você ainda não assistiu, não perca. Trata-se daquelas oportunidades raras de viajar no tempo, embarcado numa trama rica, amarrada à realidade histórica, com roteiro forte, produção milionária, atores de primeira e o aval de ser baseado no best-seller de Ken Follett, que tem mais de 90 milhões de exemplares vendidos, mesmo com suas mais de mil páginas.
                         
Ambientada na Inglaterra da Idade Média, uma hora estamos nos castelos e igrejas, outra nas florestas virgens e feiras imundas. Tudo é tão real que a viagem é inevitável. O enredo nos ocupa com dignidade e parte do assassinato do herdeiro ao trono do já idoso Henrique I. Enfim, se você gostou de “The Tudors”, “Roma”, “Spartacus”, filmes épicos quase documentais, “Os Pilares da Terra” é mais um entre os bons. São oito capítulos, exibidos sempre às terças, no mesmo horário.