sexta-feira, 17 de junho de 2011

Seu cão no São João




O cão tem a audição quatro vezes mais aguçada que a do ser humano, pode saber a origem do barulho em apenas seis centésimos de segundo e detecta sons em diferentes frequências. Afinal, sua memória genética recente traz todos os elementos de sobrevivência que precisava até poucas gerações atrás. Esta extraordinária sensibilidade auditiva antes garantia sua subsistência; hoje, na convivência domesticada, é seu maior pesadelo.
Quem tem cachorro sabe que datas como Ano Novo, São João e Copa do Mundo são verdadeiros infernos, porque são épocas onde os famigerados fogos de artifício estão por toda parte estressando-os sem piedade. Os bichos sofrem auditiva e psicologicamente, pois além de os sons doerem em seus ouvidos, os estampidos não lhes são compreendidos.
As reações são muito individuais. Alguns se mostram apenas incomodados, mudam um pouco de comportamento, mas a maioria pena bastante, tremendo sem parar, ficando hiperativo, roendo objetos, arfando, buscando a atenção do dono, chorando, escondendo-se num canto, salivando, com o coração a mil, sem comer, nem beber. Tem do tipo que late sem parar na direção de onde vem o barulho, mas nitidamente um latido nervoso, que mostra o quanto está sofrendo. 
Há casos em que o cão desenvolve tanto pânico, que foge em desespero saltando muros, quebrando vidraças, pulando por janelas e varandas de apartamentos etc. Alguns são atropelados; outros se mantêm peregrinos até a morte por desorientação. Os que não conseguem escapar de onde os barulhos estouram seus ouvidos, batem a cabeça contra a parede, podem se enforcar na própria coleira e têm convulsões ou ataques cardíacos seguidos de morte. Enfim, a época junina requer um olhar mais cuidadoso para quem cria e mais piedoso para quem respeita os bichos, não somente cães, como gatos e aves. Ignoremos os incuráveis humanos negligentes, pois, para estes, a compreensão do assunto está definitivamente fora de alcance.

 O que fazer:
Complicando o quadro, a maioria das clínicas está fechada nestes períodos festivos. A ordem é, então, prevenir. A primeira técnica é usar a psicologia para transmitir calma e confiança.
- Procure ficar perto do seu cão. Se não puder, ao menos certifique-se de que ele não pode fugir do local onde se encontra;
- Alguns animais se sentirão mais seguros se estiverem no colo do dono. Assim, tente segurá-lo com firmeza e acalme-o com frases tranquilas e equilibradas. O importante é a entonação, você sabe;
- Para minimizar o estresse, aja tranquilamente e fale baixo durante todo o tempo;
- Seja compreensivo sem, no entanto, reforçar o comportamento medroso e ansioso. Seja firme na comunicação de que não há o que temer. Caso contrário, estará contribuindo para incentivar o pânico. Você nem sempre poderá estar ali disponível;
- Jamais repreenda-o quando perceber que ele tem medo;
- Fique atento aos horários de passeio. Se necessário, antecipe a caminhada diária, para que ele não urine ou defeque durante o momento de estresse;
- Se seu cão estiver entre os casos de estresse mais graves, sede-o, sob a supervisão de um veterinário, é claro;
- Recompense-o sempre que ele se mostrar calmo diante de um estampido;
- As fobias dos cães podem ser anuladas se for desenvolvido um trabalho de dessensibilização. Isto é, ir progressivamente expondo o cão a sons cada vez mais intensos e associando estes sons a coisas agradáveis, tais como petiscos.

Para reduzir o barulho dos fogos:
- Coloque o animal em um local fechado e vede bem todas as janelas, para que ele não possa escutar as explosões com tanta clareza (um quarto ou local em que entre pouco som);
- Feche as persianas e cortinas para isolar inclusive a luz;
- Estenda cobertores pesados nas janelas e no chão desse quarto;
- Ligue a televisão ou o rádio. Ponha um CD ou DVD que não seja sonoramente excitante;
- Cubra o animal com algum edredom. O importante, nesse caso, é reduzir ao máximo todo o ruído que pode atormentar o seu bicho;
- Se necessário, faça uma espécie de toca, longe da janela, onde o cão possa se sentir abrigado. Coloque um de seus brinquedos no local;
- Quando a hora dos fogos é previsível, mantenha-o perto da TV ou do rádio e vá aumentando o volume à medida que a hora mais estrondosa se aproxima. A ideia é fazê-lo acostumar-se com o som alto para que o barulho inesperado dos fogos não o assuste tanto;
- Alguns veterinários recomendam tampões de algodão ou silicone nos ouvidos do animal.





Fontes: ULA e ONG Fala Bicho

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Serra de Itabaiana: o paraíso é logo ali



A Serra de Itabaiana guarda os mais bonitos e diversos espetáculos naturais de Sergipe. Ali, cachoeiras, poços, grutas, riachos, vales e penhascos compõem cenários sempre impactantes. A caminhada relativamente fácil é tão compensadora que obriga os visitantes a intervalos de mera contemplação. Os olhos saem de lá em festa e mais exigentes - creia nisso. O corpo inteiro agradece, na verdade, porque há também as inevitáveis paradas para banhos, a invasão do cheiro de mato, os sons da força das águas e de 123 espécies diferentes de pássaros. Tudo ali foi feito para ver, sentir, cheirar e ouvir ao mesmo tempo. O passeio é, do começo ao fim, uma grande reverência à natureza.
A Serra é o ícone, o auge de uma área de 7.966 hectares, elevada à categoria de Parque Nacional em 2005. Em meia hora de carro chega-se lá, partindo-se de Aracaju. São 40 km, da capital sergipana. Existem 12 trilhas para desbravar o local e há passeios para todos os graus de habilidade física - turísticos, de aventura, ecológicos e terapêuticos. Invente o seu, se preferir. Para quem vai pela primeira vez, recomendo a trilha Via Sacra, que inclui a Cachoeira Véu de Noiva, a Gruta da Serra e o Poço das Moças. Sem pressa e inspirando a energia do lugar, em duas horas e meia você estará no topo, a 659 metros de altitude. Outros roteiros igualmente conhecidos pela exuberante paisagem são Piçarra, Caldeirão, Carros e Paredão.
O objetivo quando estive por lá, no sábado 28 de maio passado, foi comungar com a mãe natureza, num roteiro mais terapêutico que ecológico – holístico, eu diria. Fui com o Grupo Andarilhos, sob a coordenação de Sônia Bonfim - contato: (79) 9141-3486. Na caminhada, quem primeiro se apresenta é o Riacho Coqueiro. Como fomos numa fase de cheia das águas (na mesma semana Aracaju esteve imersa), em tudo havia abundância. Atravessada a primeira ponte, pouco a pouco a paisagem se define com extrema clareza: à esquerda, a caatinga e à direita, a Mata Atlântica. Dezesseis espécies de serpentes, 62 de mamíferos e 24 de anfíbios, além de pássaros e insetos cruzam os dois biomas. Os maiores exemplares encontrados por lá são o veado campeiro, a siriema e a preguiça. Pela vegetação, bromélias e mini orquídeas endêmicas podem ser apreciadas com facilidade.
 Riacho Coqueiro: primeira travessia.

O Parque Nacional Serra de Itabaiana guarda um dos maiores mananciais de água do Estado. Lá estão um sem número de nascentes, incluindo as dos rios Cotinguiba e Poxim. A fartura hídrica pode ser comprovada na primeira grande aparição de cair o queixo: a Véu de Noiva. Para onde se olha, de cima a baixo, vê-se o superlativo de águas e rochas. As pedras de quartzitos claros por onde a água desce fazem a cachoeira ter muita personalidade para naturebas de primeira passagem pela Serra. O mergulho na água gelada é inevitável e logo o guia Marcos Mota instiga nosso espírito desbravador. “Ali abaixo tem um poço estreito e fundo que dizem rejuvenescer”, brincou. E, claro, um a um, todos caímos dentro. Vai que o negócio tem fundamento, hein? Descendo agachados, às vezes ralando um pouco a bunda, fomos até o fim da cachoeira e um delicioso lago limpo, limpo, limpo nos permite nadar. Delícia parar ali, mirar a mata fechada e imaginar quanta vida há em volta. Olhando para o lado pode-se observar o riacho que leva a água entornada pela Véu de Noiva, desviando o fluxo para a direita e revelando, para os que seguirem o caminho, o Vale dos Gnomos – recanto mágico segundo depoimentos de quem já esteve por lá.


Gruta da Serra: a eleita


Seguimos, então, para a Gruta da Serra, o lugar mais provocativo de todos. A mata fechada, o canto múltiplo de pássaros, a umidade local e o verde farto denunciam que estamos mesmo na genuína Mata Atlântica. Após uma fácil descida por um caminho de terra escura, eis que surge a Gruta, o lugar menos impregnado de presença humana em toda a trilha. Na parte mais alta dela, deságua o Riacho Cipó. De uma boa altura, a água pura nos purifica. Virgem, deságua sobre nossas cabeças, como num rebatismo especial. Não há como não se sentir abençoado neste quase ritual.
O último ponto de parada foi o Poço das Moças. A subida até ele é de mais contemplação. Ele está lá em cima ainda, mas suas águas descem em largas e calmas cachoeiras, desta vez mais extensas do que íngrimes. Cada um desses momentos já estava guardado em mim. Mas é preciso fotografar para ter um mínimo de crédito no tanto que se há de contar. As fotos deste post, portanto, são minhas, feitas com uma máquina portátil amadora. O que houver de bom nelas, é crédito do lugar.
O Poço das Moças é um êxtase, a perfeita consagração da viagem. Suas cores contrastantes mais uma vez espantam. A água é limpa, não há dúvida. Mas o Poço é escuro. Em torno dele, as rochas branquíssimas. Várias lendas são contadas, da origem de seu nome aos efeitos de seu banho. Lendas divertidas, com toques sensuais e algumas até trazem teorias do além. No dia em que aportamos por lá, 120 estudantes do Colégio Master tomaram o lugar e tivemos, sem escolha, que debandar. A energia da meninada é muito boa, mas afinal nossa vibe era outra. Um escorregador natural é divertimento entre os mais novos. Eu, que fui ali para abraçar aquele mundo, postei-me, quieta, observando de cima a paisagem que havíamos escalado há pouco e, mais uma vez, ficando com a certeza de que, não importa de que ângulo se aprecie, tudo vale muito a pena na Serra de Itabaiana.

Subida para o Poço das Moças.

Poço das Moças: preferido de muitos.

Aonde quer que eu vá... 

sábado, 11 de junho de 2011

MAIS SOBRE A REVOLUÇÃO DIGITAL




O famoso dito “o que acontece em Vegas, fica em Vegas” caiu por terra. Hoje, o que acontece na metafórica Vegas, é comentado no Twitter, vai para o Flickr, é postado no Youtube e, assim, ganha o mundo. 

1 em cada 5 casais se encontra online.

3 em 5 casais homossexuais se encontram via web.

1 em cada 5 divórcios é motivado pelo Facebook.

Gerações Y e Z consideram o e-mail ultrapassado. Algumas universidades já pararam de distribuir contas de e-mail. 

Crianças dos jardins de infância estão utilizando iPads. Nada mais de quadros de giz ou similares.

Nos EUA, livros digitais já ultrapassaram as vendas de livros tradicionais. 

Se a Wikipedia fosse um livro, teria 2.250.000 páginas e você levaria mais de 123 anos para lê-lo.

Lady Gaga, Justin Bierber e Britney Spears têm mais seguidores no Twitter que a população inteira da Suécia, Israel, Grécia, Chile, Coréia do Norte e Austrália. 

Youtube já é a segunda maior ferramenta de busca do mundo.
 
O Facebook representa 50% do tráfego da Internet móvel no Reino Unido.  

Web jogadores vão consumir US$ 6 bilhões em bens virtuais até 2013. 

93% dos profissionais de marketing usam mídias sociais para os negócios. 

O Ford Explorer, lançado no Facebook, gerou mais tráfego do que no intervalo do Super Bowl, final do campeonato esportivo dos EUA  e evento de maior interesse popular da TV americana.

Mais de 37 milhões de pessoas assistiram ao VW Darth Vader no Youtube. 

90% dos consumidores da web confiam nas recomendações de outros internautas. Apenas 14% confiam em anúncios. 

Está comprovado que as mídias sociais impactam até mesmo nosso comportamento offline.

Não investir em mídias sociais significa dizer que sua empresa vai deixar de existir nos próximos 5 anos.

"Nós não temos escolha quanto a estarmos ou não nas
mídias sociais. A questão é quão bem nós podemos fazê-lo". Erik Qualman 

TUITOSFERA NO BRASIL


TWITTER NO MUNDO: BRASIL É DOS GRANDES 




Fonte: Socialnomics



quarta-feira, 1 de junho de 2011

Ariano Suassuna: o sertanejo universal


É pouco defini-lo como poeta, dramaturgo, teatrólogo, roteirista, romancista, filósofo. É mais honesto dizer que Ariano Suassuna é um sertanejo defensor de nossa cultura. Ouvi-lo falar é como estar lendo um de seus livros. Ariano está em seus textos e sua obra é Ariano. Ele pode ser, facilmente, qualquer uma de suas criaturas. Autor e personagens se entrelaçam; os sonhos de um se confundem com os do outro.
Nordestino bem intencionado, de alma bela, do tipo fiel à palavra dada, contundente e sincera honestidade intelectual, um tanto rude, de uma valentia doce e firme. Vê-se que não está cego para os equívocos oficiais de um Brasil sem identidade. É o emblema forte da região.
Socialista, abole todos os abismos, inclusive o entre o bem e o mal. No Auto da Compadecida, Nossa Senhora intervém em favor de João Grilo, com argumentos maternos, celestiais. Mas o nosso autor logo mostra, com a sutileza inteligente que lhe é peculiar, que o real interesse da mãe de Jesus está na promessa (envolvendo muito dinheiro) feita em terra por Chicó. Só Ariano tem o domínio deste limiar; só ele, por isso mesmo, é tão instigante e tão popular.
“A receita do meu teatro continua a ser essa fórmula, para mim mágica, que entrou em meu sangue na infância com a comédia brasileira, o drama, o romanceiro, os espetáculos populares e o circo. Ainda menino, no sertão da Paraíba, o palco mágico e festivo do teatro, com seus violentos contrastes entre recantos sombrios, povoados de assassinatos, e zonas de luz cheias de gargalhadas. Todo esse mundo me foi revelado, ao mesmo tempo, pelo circo, onde travei conhecimento”, define-se.
Ariano possui uma fala que, aos 84 anos, atrai atenção, simpatia, reflexão e graça dos jovens. Talvez pelo bordado utópico de suas bandeiras sócio-culturais. “Por que tratar por boóque o que podemos chamar de livro? Não é muito mais bonito?”, lembro dele falando isso para uma plateia de jovens, que sempre se rendem ao escritor. Sempre. Veja, neste vídeo a seguir, com que singeleza ele se expressa numa passagem bem curiosa e divertida e o quanto é mesmo fácil encantar-se por ele.


Sua forte influência foi o pai, João Suassuna, que ainda era governador da Paraíba quando Ariano nasceu, em 1927. Foi assassinado na Revolução de 30. É comum ver Ariano inseri-lo em suas entrevistas, mesmo quando o assunto não o chama diretamente. Tem orgulho em dizer que o amor pelo sertão é herança dele. Comove, ao citar trechos de escritas do pai.
Posso dizer que, como escritor, eu sou, de certa forma, aquele mesmo menino que, perdendo o pai assassinado no dia 9 de outubro de 1930, passou o resto da vida tentando protestar contra sua morte através do que faço e do que escrevo, oferecendo-lhe esta precária compensação e, ao mesmo tempo, buscando recuperar sua imagem, através da lembrança, dos depoimentos dos outros, das palavras que o pai deixou”, revelou, emocionado, em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, em 1989.
O nosso Ariano só usa alpercatas e roupas feitas por costureiras populares do Recife, onde foi morar ainda jovem, para estudar. Diz representar o ‘Brasil real’. Até mesmo seu uniforme de ingresso na ABL foi feito por duas profissionais recifenses. Uma insurreição pacata, mas muito bem representada. O mais bonito em Ariano, no entanto, é preferir a simplicidade quando poderia apresentar-se complexo e ter acesso fácil à casta intelectual brasileira. Mas ele tem outros propósitos. Chamaria de uma natural predileção pela paisagem árida e tudo que a ela possa remeter, mesmo como puro simbolismo.
Surpreendentemente nunca saiu do Brasil, porém é homem que domina a literatura mundial. É capaz de citar trechos de obras de Camus a Thomas Mann, de Balzac a Euclides da Cunha, seu grande inspirador. Diz o capítulo, explica o diálogo, faz o que quer. Já traduziu obras estrangeiras, o que não o orgulha. Quando perguntado quantas outras línguas ele domina, Ariano é apressado em dizer que nenhuma. Com insistência, diz que arranha no francês, entende um pouco de alemão e lê o inglês. Em se tratando de Ariano, não é modéstia; ele evita ser paradoxal. Explica que saber várias línguas foi importante numa época em que as grandes obras não eram editadas em português. Sobrevivência literária de um poeta com sede.
É formado em Direito. Entre 1952 e 1956 entregou-se ao mundo jurídico, mas nunca deixou de escrever. Foi em 1955, em paralelo a este universo das leis, que escreveu a obra que lhe rendera a Medalha de Ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais – Auto da Compadecida, que já teve duas versões adaptadas para o cinema (em 1969 e em 2000) e uma em microssérie de TV (em 1994).
“A Pedra do Reino”, de 1971, sua ficção preferida, é considerada um marco na literatura nacional. Segundo promete, há uma ainda mais representativa em conclusão. O autor tem 33 obras editadas, entre romances, livros de poesia, dramas roteirizados, teses culturais e outros gêneros, com traduções para o inglês, francês, espanhol, alemão, holandês, italiano e polonês. Afinal, Ariano também é plural. Seu texto, no entanto, é involuntariamente original. Beber de sua literatura é se embrenhar no conhecimento, na luz, na força da mais limpa cultura nordestina que ele, generoso, nos entrega de mão beijada.