sexta-feira, 20 de abril de 2012

Sócrates, o precursor de Jesus


Você sabia que Jesus Cristo era um seguidor da filosofia socrática? Pois sim, há grande abundância de Sócrates no filho de Deus. Apenas 400 anos separam um do outro e considerando o quanto um permanece tão vivo até hoje e outro foi negligenciado pela humanidade, me pergunto por que, pra muita gente, Sócrates pouco passou do filósofo grego autor da sentença “Só sei que nada sei”.
Louva-se Jesus porque questionava as velhas crenças e não aceitava algo pela autoridade, pela obviedade, pelo senso comum. Quatro séculos antes, Sócrates já fazia isso, e muito bem feito. Todas as suas biografias revelam o quanto renegava a verdade genérica, o argumento banal. Não queria as respostas padronizadas, tradicionais. Durante 50 anos, criticou e atacou publicamente as tradições da vida e tinha um grupo de jovens seguidores (entre eles, Platão). Queria formar seres pensantes, sem pedir nada em troca. Sequer gostava de dizer que tinha seguidores.
Outro dado instigante sobre ele é que não deixou escritos, já que o conhecimento, no seu entender, não é uma obra fechada, concluída. Conhecimentos, sensações, compreensões, percepções, uma vez retidos, imediatamente se limitam, perdem valor. A memória, na filosofia socrática, não comporta o saber. Sabia que o saber é não saber.
Andava descalço, com uma túnica encardida, pouco se banhava e tudo isso era incomum para uma pessoa de sua casta intelectual. Jesus foi espírito. Sócrates foi corpo e alma alheios às convenções. Era desengonçado, tinha a cabeça grande, olhos grandes, era um homem feio, o que também, entre os gregos, era incomum. Outro grande talento era o bom humor, uma quase ironia, beirando o sarcasmo,  próprio dos muito inteligentes. No episódio de sua morte, seus seguidores lamentavam que ele morresse  inocente. E ele lhes respondeu: “Por que? Prefeririam que eu morresse culpado?”.
Na época em que viveu (469aC-399aC), o comum filosofal era interrogar sobre o Universo, a Terra, a Lua, o Sol, de que eram feitos ou quem os fez. Era uma época em que afloravam a ciência, o estudo da astronomia, da matemática e da física. Mas ele não se interessava por nada disso. Só queria saber de gente e do pensamento dessa gente.
A enorme riqueza de sua vida abrange matrizes não só da filosofia, mas também da psicanálise, da religião, da política, da cultura, do mundo das leis, da pedagogia, das relações públicas, da composição social. Enfim, Sócrates pode estar onde quisermos colocá-lo.
Sócrates foi o primeiro gênio a pôr o ser humano no centro da existência: -“Quem sou eu?”, “Por que sou o que sou?”, “Por que sei o que sei?”, eram perguntas que lhe fervilhavam a mente. Trocava ideia com poetas, artesãos, políticos, gente do povo, qualquer um. Perguntava-lhes sobre piedade, amor, justiça, ética, moral. Suas conversas começavam em tom de curiosidade e terminavam provocativas, confrontadoras. Foi extremamente hábil em explorar as contradições humanas. Era uma pessoa muito cativante, mas desestruturava os pretensiosos.
Assim como viveu, morreu pela liberdade do pensar, cumprindo sentença da tal justiça humana. Nos deixou o ensinamento de nunca nos conformarmos com o que já existe como única forma do possível. Ao contrário: é preciso filosofar. Depois da morte de Sócrates, Atenas converteu-se numa cidade intelectual, um paraíso do estudo e da discussão, dos alunos de Sócrates e dos alunos de seus alunos...
Platão, Aristóteles e tantos outros passaram a construir lentamente um mundo embasado numa razão especial e pouco a pouco as ideias destes gregos começaram a se alastrar pelo mundo. Foi graças a Sócrates, pois, que o mundo virou o império do questionamento e de uma infindável busca existencial. E um dos inúmeros méritos de Jesus foi, portanto, inspirar-se nesta fonte límpida, rica, extraordinária.

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