A Serra de
Itabaiana guarda os mais bonitos e diversos espetáculos naturais de Sergipe.
Ali, cachoeiras, poços, grutas, riachos, vales e penhascos compõem cenários sempre
impactantes. A caminhada relativamente fácil é tão compensadora que obriga os
visitantes a intervalos de mera contemplação. Os olhos saem de lá em festa e
mais exigentes - creia nisso. O corpo inteiro agradece, na verdade, porque há
também as inevitáveis paradas para banhos, a invasão do cheiro de mato, os sons
da força das águas e de 123 espécies diferentes de pássaros. Tudo ali foi feito
para ver, sentir, cheirar e ouvir ao mesmo tempo. O passeio é, do começo ao
fim, uma grande reverência à natureza.
A Serra é o
ícone, o auge de uma área de 7.966 hectares, elevada à categoria de Parque
Nacional em 2005. Em meia hora de carro chega-se lá, partindo-se de Aracaju.
São 40 km, da capital sergipana. Existem 12 trilhas para desbravar o local e há
passeios para todos os graus de habilidade física - turísticos, de aventura,
ecológicos e terapêuticos. Invente o seu, se preferir. Para quem vai pela
primeira vez, recomendo a trilha Via Sacra, que inclui a Cachoeira Véu de
Noiva, a Gruta da Serra e o Poço das Moças. Sem pressa e inspirando a energia
do lugar, em duas horas e meia você estará no topo, a 659 metros de altitude.
Outros roteiros igualmente conhecidos pela exuberante paisagem são Piçarra,
Caldeirão, Carros e Paredão.
O objetivo
quando estive por lá, no sábado 28 de maio passado, foi comungar com a mãe
natureza, num roteiro mais terapêutico que ecológico – holístico, eu diria. Fui
com o Grupo Andarilhos, sob a coordenação de Sônia Bonfim - contato: (79)
9141-3486. Na caminhada, quem primeiro se apresenta é o Riacho Coqueiro. Como
fomos numa fase de cheia das águas (na mesma semana Aracaju esteve imersa), em
tudo havia abundância. Atravessada a primeira ponte, pouco a
pouco a paisagem se define com extrema clareza: à esquerda, a caatinga e à
direita, a Mata Atlântica. Dezesseis espécies de serpentes, 62 de mamíferos e
24 de anfíbios, além de pássaros e insetos cruzam os dois biomas. Os maiores
exemplares encontrados por lá são o veado campeiro, a siriema e a preguiça. Pela
vegetação, bromélias e mini orquídeas endêmicas podem ser apreciadas com
facilidade.
Riacho Coqueiro: primeira travessia. |
O Parque
Nacional Serra de Itabaiana guarda um dos maiores mananciais de água do Estado.
Lá estão um sem número de nascentes, incluindo as dos rios Cotinguiba e Poxim.
A fartura hídrica pode ser comprovada na primeira grande aparição de cair o
queixo: a Véu de Noiva. Para onde se olha, de cima a baixo, vê-se o superlativo
de águas e rochas. As pedras de quartzitos claros por onde a água desce fazem a
cachoeira ter muita personalidade para naturebas de primeira passagem pela
Serra. O mergulho na água gelada é inevitável e logo o guia Marcos Mota instiga
nosso espírito desbravador. “Ali abaixo tem um poço estreito e fundo que dizem
rejuvenescer”, brincou. E, claro, um a um, todos caímos dentro. Vai que o
negócio tem fundamento, hein? Descendo agachados, às vezes ralando um
pouco a bunda, fomos até o fim da cachoeira e um delicioso lago limpo, limpo,
limpo nos permite nadar. Delícia parar ali, mirar a mata fechada e imaginar
quanta vida há em volta. Olhando para o lado pode-se observar o riacho que leva
a água entornada pela Véu de Noiva, desviando o fluxo para a direita e
revelando, para os que seguirem o caminho, o Vale dos Gnomos – recanto mágico
segundo depoimentos de quem já esteve por lá.
Seguimos, então, para a Gruta da Serra, o lugar mais
provocativo de todos. A mata fechada, o canto múltiplo de pássaros, a umidade
local e o verde farto denunciam que estamos mesmo na genuína Mata Atlântica.
Após uma fácil descida por um caminho de terra escura, eis que surge a Gruta, o
lugar menos impregnado de presença humana em toda a trilha. Na parte mais alta
dela, deságua o Riacho Cipó. De uma boa altura, a água pura nos purifica.
Virgem, deságua sobre nossas cabeças, como num rebatismo especial. Não há como
não se sentir abençoado neste quase ritual.
O último ponto de parada foi o Poço das Moças. A subida até
ele é de mais contemplação. Ele está lá em cima ainda, mas suas águas descem em
largas e calmas cachoeiras, desta vez mais extensas do que íngrimes. Cada um
desses momentos já estava guardado em mim. Mas é preciso fotografar para ter um
mínimo de crédito no tanto que se há de contar. As fotos deste post, portanto,
são minhas, feitas com uma máquina portátil amadora. O que houver de bom nelas,
é crédito do lugar.
O Poço das Moças é um êxtase, a perfeita consagração da
viagem. Suas cores contrastantes mais uma vez espantam. A água é limpa, não há
dúvida. Mas o Poço é escuro. Em torno dele, as rochas branquíssimas. Várias
lendas são contadas, da origem de seu nome aos efeitos de seu banho. Lendas
divertidas, com toques sensuais e algumas até trazem teorias do além. No dia em
que aportamos por lá, 120 estudantes do Colégio Master tomaram o lugar e
tivemos, sem escolha, que debandar. A energia da meninada é muito boa, mas
afinal nossa vibe era outra. Um escorregador natural é
divertimento entre os mais novos. Eu, que fui ali para abraçar aquele mundo,
postei-me, quieta, observando de cima a paisagem que havíamos escalado há pouco
e, mais uma vez, ficando com a certeza de que, não importa de que ângulo se
aprecie, tudo vale muito a pena na Serra de Itabaiana.
Subida para o Poço das Moças. |
Poço das Moças: preferido de muitos. |
Aonde quer que eu vá... |
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